Adriana Rocha
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AS MARCAS DO TEMPO
Adriana Rocha cobre a pintura de mistério
Nascida em 1959, em São Paulo, Adriana Rocha tem na sua pintura a convicção de um percurso de trabalho construído ao longo de 20 anos.”Quando comecei a faculdade de arte, na FAAP, fazia desenho.Mas já era um desenho que falava de pintura. A partir de 1983 é ela que dá corpo aos meus questionamentos como artista.”
Assim como a chamada Geração 80, da qual fez parte indiretamente, Adriana Rocha dedicou-se às telas como suporte de expressão. Porém, ao contrário de seus colegas, que se debruçavam sobre abstratas e pungentes camadas de tinta, ou se empenhavam em criar uma linguagem figurativa evocando facetas do cotidiano, Adriana encantou-se, desde o início, com a idéia da passagem do tempo e das marcas que ele deixa e pouco a pouco apaga. “Sempre trabalhei com imagens pré-existentes, que ficam depositadas na memória e depois se esvaem. Fascina-me a condição humana da impermanência”, diz a artista.
Sua exposição individual mais recente, realizada em 2003, na Galeria Nara Roesler, em São Paulo, trouxe uma particularidade: as obras passaram a conter índices figurativos claros, estampados nas telas. Uma menina de uns dez anos, seus filhos, uma amiga. “São figuras conhecidas, reconhecíveis. Porém, eles recebem um tratamento de pintura feita em camadas, cheias de veladuras e transparências que criam esse aspecto de desgaste”.
De fato, as telas de Adriana Rocha parecem prever as consequências da inevitabilidade do tempo. Esse tipo de mistério, um clima de quase ruína, é adquirido em um processo particular de preparação da tela e das tintas. Um processo lento. Depois de gesso e lixa, a tela ganha uma camada de pigmento preto com verniz acrílico e, só com o fundo pronto, é então recoberta por sucessivas camadas de tinta, que vão sendo lavadas e sobrepostas. “É assim que o olho penetra na cor, aos poucos, misteriosamente”. Na construção das pinturas, Adriana Rocha traduz o jogo do mostrar/revelar que define toda sua obra.
No meio dessas camadas de matizes, as figuras de pessoas e paisagens são impressas com hotstamp, uma máquina que imprime com calor. “O poder das imagens na mídia é óbvio. Já na pintura, a imagem não serve para esclarecer. Ela está lá para sugerir, perguntar, duvidar”. O que Adriana faz é retirar da imagem impressa seu caráter narrativo, desvelando suas incertezas. “É preciso desfazer o mito de que uma imagem não mente. Confiamos demais nelas. Elas mentem”.
Outra questão que aparece no trabalho da artista, ao utilizar imagens pré-existentes, é a questão autoral.”É um alívio não Ter de Ter posse sobre todas as imagens que eu uso. Não tenho maternidade sobre elas”.
Nesse momento, a artista está desenvolvendo um projeto de arte pública, que inclui a pintura sobre muros, paredes e praças da cidade de São Paulo. Ao contrário das imagens óbvias, invariavelmente excessivas que pontuam a vida na cidade grande – “estupros visuais”, na linguagem da artista -, as obras de Adriana Rocha serão sutis, quase imperceptíveis. “Farei rastros de paisagens, algo muito silencioso, que convide a um olhar bem diferente”. De acordo com ela, essa provocação quieta afirma-se como um grito de sobrevivência para o processo de criar imagens, já tão desgastado no mundo pós-midiático. “É preciso descobrir um veio de sobrevivência para a pintura, pois tudo parece já Ter sido feito. É preciso limpar.”
Adriana tem trilhado um caminho que inclui exposições no Brasil e no exterior – participou da ArteBA, em Buenos Aires, em 2000, com a Galeria Nara Roesler’e de uma coletiva em Bobigny, uma pequena cidade próxima `a Paris, em 2001. Ela divide seu atelier, um grande galpão na Vila Madalena, em Sào Paulo, com os artistas Luis Solha e Regina Johas.
Setembro de 2003
Kátia Canton
Revista Bravo