Adriana Rocha

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IMPRESSÃO DE ADRIANA ROCHA

Há uma discordância curiosa entre o que os íntimos conhecem de Adriana Rocha e o que o público encontra em suas telas. Desde muito cedo Adriana se viu partilhada entre duas preocupações, a social e a busca da própria identidade.

Quando se decidiu pela pintura, podia ter optado por uma arte empenhada, que refletisse ao mesmo tempo a tirania da miséria e a pesquisa de sua alma. Adriana não quis aceitar esse compromisso. Preservou com disciplina as duas exigências de seu temperamento e dedicou-se metódica e alternadamente a seu trabalho no campo social e à pintura. É inútil procurar nos temas obsessivos de suas telas, na escolha atenta dos modelos, no tratamento da cada elemento da composição, reminiscências ou intenções não artísticas. Quando se transfere para a tela tem o cuidado de apagar as marcas que se imprimiram de fora para dentro, para que cada trabalho deixe aflorar o seu secreto mistério. Quando pinta, não pensa em consertar o mundo, só quer fixar o homem cru, o nervo exposto, radiografar impiedosamente a complexidade dos sentimentos. Mas nada que não se refira estritamente às questões da própria pintura aparecerá ali.

Este ano talvez tenha sido decisivo para a evolução de Adriana. As últimas exposições que fez em São Paulo indicam uma guinada em suas pesquisas, que vão abandonando gradativamente a composição de planos coloridos e se desinteressando dos jogos de textura, para começar a explorar a linearidade e a recuperação do desenho.

É cedo para prever como essa jovem artista irá reagir ao impacto recente da breve estadia em Nova Yorque. Mas é certo que se continuar com a mesma força e determinação, Adriana Rocha ainda irá muito longe.

São Paulo, 1986

Gilda de Mello e Souza