Adriana Rocha

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A PINTURA DE ADRIANA ROCHA

Se por um lado o extraordinário avanço dos meios de comunicação privilegiou o livre trânsito da informações e das idéias, por outro impôs ao homem moderno um relacionamento interpessoal cada vez mais restrito. Tornou-o mais solitário e menos solidário.
Como “antenas da raça”, na expressão de Ezra Pound, os artistas contemporâneos têm captado com mais freqüência que seus antecessores este sentimento generalizado de solidão que avassala o homem de hoje. Solidão que, as vezes, ele não sabe de onde vem nem para onde vai, mas que sente presente de maneira contundente e desarticuladora.

Artista sensível, Adriana Rocha, que viveu durante alguns anos numa tranqüila fazenda em Bauru e que reside atualmente na trepidante São Paulo, foi impactada pele percepção desta grande solidão que se abate sobre a maioria das pessoas que aqui vivem e trabalham. Ela registrou em sua obra anterior todo este universo, projetando o desejo de organizá-lo tanto em sua dimensão real como em sua pintura. Trabalhou com a incompreensão, a perplexidade, a incomunicabilidade, os sistemas culturais e de valores, com o caráter e o comportamento dos indivíduos.

Este sentimento continua presente em seus trabalhos mais recentes. Todavia, seu discurso tornou-se mais despojado, mais essencial, tanto do ponto de vista formal como do colorístico. A solidão ressalta do próprio isolamento dos elementos compositivos de sua pintura atual, reveladora de um amadurecimento evidente da artista. Adriana reduziu seu universo plástico à um mínimo de elementos com o objetivo de aumentar sua eficácia. E conseguiu. As formas tornaram-se extremamente econômicas, as cores se depuraram, a textura ganhou novo sentido, resultando numa pintura de significação mais extensa em termos de linguagem.

Paralelamente à opção pelos grandes formatos, a pintura de Adriana Rocha aproxima-se cada vez mais do domínio em que ela não conta mais uma história. Ela adentra o universo do puramente pictórico, da pintura que tem como assunto a própria pintura. Da pintura como numerador, denominador e quociente.

São Paulo, março de 1989

Enock Sacramento

Membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte