Adriana Rocha

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Mencionar nevoeiros espessos, situações veladas e objetos apenas sugeridos, seriam maneiras poéticas de apresentação do trabalho de Adriana Rocha. Da mesma forma caberiam as alusões, também sempre poéticas, a Bachelard e a sua defesa do direito ao devaneio, bem como as aproximações aos jardins de Monet e aos céus pintados por Turner. Seu trabalho tem algumas afinidades com tais questões e a comparação até seria apropriada ao se pensar nas imagens fugidias que se apreende em sua pintura. Seu olhar é bem informado e seu fazer experiente indica familiaridade com a história da arte. Mas é bem evidente que os elementos que parecem aproximá-la daquelas referências, apontam outra direção de sua vontade. Adriana não se preocupa em criar possibilidades de evasão, nem um lusco-fusco perceptivo propondo à visão vencer os obstáculos físicos da própria pintura para enxergar universos além dela.

Adriana pertence a uma geração que encarou o desafio de voltar à pintura, sem rejeitar as lições do passado. Em seus anos de formação vivenciou o surgimento das novas figurações e o gosto pela fatura cuidadosa. Apropriou-se da linha sinuosa identificando em caligrafias pessoais imagens bem conhecidas, sem menosprezo pela figuração. Absorveu também o gosto pela matéria pictórica conseguida com cuidado – sedimentação paciente de camadas sobrepostas, responsáveis pela densidade cromática e pela riqueza das texturas.
Seu trabalho não transcreve um momento, mas o constrói passo a passo. Sempre fiel ao desenho, transforma-o no principal instrumento de sua ação, sobrepondo-os de modo a ir definindo simultaneamente figura, fundo e cor. Com linhas e massas faz emergir imagens do conjunto, impõe alterações e depois faz com que mergulhem novamente, alterando de modo sutil o fundo.

A repetição sucessiva dessas operações de submersão e resgate, determinam que algumas imagens se sobreponham às outras e criem diálogos com a superfície híbrida que lhes deu origem. Estabelece relações intencionalmente pouco precisas e chega a figuras vagamente identificáveis. Não lhes define propriamente voz nem capacidade de articulação de palavras, mas também não silencia totalmente as formas que sepulta, criando um murmurar constante.
Não é a força, a definição de seu traçado e muito menos a intensidade de suas cores que capturam de imediato a atenção do público. Pelo contrário, os contornos simples e indefinidos, a vaga familiaridade com algo, assim como a sobriedade da cor das pinturas de Adriana Rocha não confiam seu segredo no primeiro instante aos que passam. Convidam silenciosamente o olhar a indagá-los e na lentidão com que se revelam, vão se tornando próximos do universo visual e afetivo do observador, permitindo que novas descobertas sejam feitas, porém mantendo sempre algo oculto.

31/10/1994

Maria Izabel B. Ribeiro